Ida à feira livre e a compaixão da multidão
Hoje, 4 de junho de 2023, fui à feira, Feira Livre Dionor Maranhão. Já era tarde e a feira estava terminando. As pessoas embalavam a mercadoria que restou e punham no carro, fechavam boxes e barracas, e assim por diante. A couve, a alface, a cebolinha, o jambu e as demais hortaliças de folha, já mais murchas do que verdes, esmaecidas, anunciavam a perda inevitável e o consequente prejuízo do feirante. Fim de feira é sempre assim. Sempre que vou tarde, assisto a cenas semelhantes. Já deveria ter-me acostumando, mas não me acostumo.
Hoje, eu planejara ir cedo, por volta das 7 horas da manhã, para ver as hortaliças e demais produtos ainda bem fresquinhos, cheios de vigor, a seiva exuberante à vista, e também ver a multidão. As pessoas, alegremente, vendendo, comprando, conversando. Algumas, como eu geralmente faço, apenas passeando. Amo isso. Sou filho de lavradores, de pai e mãe analfabetos, e morei na roça até os 20 anos de idade. Posso até dizer que saí da roça, mas, com certeza, a roça não saiu de mim.
Não é somente a alegria, porém, que ir à feira me proporciona. Há o aspecto cultural e, não muito raramente, o aprendizado, mas, também e principalmente, as reflexões profundas sobre a condição humana. A feira livre e a sua multidão me comovem e me fazem refletir muito. Ir à feira, notadamente quando o dia já vai alto, gera em mim o misto de alegria, revolta e tristeza diante do sentimento vivo da miséria produzida pela exploração malévola do homem pelo homem e das conseguintes desigualdades sociais.
É degradante e desanimador concluir que, assim como aqui, na feira livre do bairro Laranjeiras de Marabá, em talvez outras centenas de bairros Laranjeiras e milhares de outras localidades pelo Brasil adentro ou afora (neste caso, tanto faz), em pleno dia de domingo, as pessoas estão trabalhando a duras penas para ganhar honestamente um bocado de pão, enquanto neste mesmo pedacinho de mundo alguns poucos vivem regaladamente com o fruto da mais vil e cruel exploração do semelhante, no comércio, na indústria e na prestação de serviços (quando não com o fruto do nefando desvio de recursos dos cofres públicos).
Lembrei-me hoje, como inevitavelmente me lembro sempre que vou à feira, de que Jesus teve pena das multidões! Sim, Jesus teve compaixão das multidões. A Bíblia diz isso em Mateus 9.36. O contexto, obviamente, é outro. Eu sei. Ninguém, pois, pense que estou usando o texto bíblico erradamente. Jesus aí, para além das necessidades físicas do ser humano e não somente delas, fala da necessidade espiritual de salvação. É preciso, pois, uma visão holística da pessoa, vendo o ser humano como um todo material e imaterial. Concluo, portanto, com Alain Supiot: “Olhar o homem como um puro objeto ou olhá-lo como um puro espírito são as duas faces de um mesmo delírio.”
Enviado por Valdinar Monteiro de Souza em 04/06/2023
Alterado em 04/06/2023