O meu celular amanheceu escrevendo grego
Foi hoje, 14 de julho de 2022, o dia em que meu celular cismou de amanhecer escrevendo apenas grego – inglês e grego moderno, para ser exato. Levei um susto e fiquei momentaneamente muito agoniado, pois precisava de me comunicar, por escrito e urgentemente, pelo WhatsApp, com a Câmelha, minha mulher, que está em Belém, com o Samuel, nosso caçula, mas não conseguia. A Câmelha não fala nem lê inglês nem grego. Até já lhe tentei ensinar, mas ela não quis aprender e, por isso, não sabe uma palavra sequer de grego. Diga-se, evidentemente, mais ou menos a mesma coisa, do inglês. Danou-se!
Era cedinho, não dava para ligar, porque eu, com minhas agonias tolas de sempre, não dispunha de tempo. Tinha compromisso no Ministério Público, e a She-Ra, minha cadelinha safada, acordara-me madrugada adentro, latindo zangadamente por causa de um gato sobre o muro. Perturbado, demorei-me a pegar no sono novamente e acabei acordando bem mais tarde do que planejara. Não deu outra, como tenho a mania de perseguição com as horas, fiquei desesperado. Eram 7 horas, eu tinha inúmeras coisas para fazer, inclusivamente tirar a barba, e deveria estar às 8h30 no Ministério Público. É aí que, para me completar o desespero, entra o celular bilíngue, mas sem português.
Tomei banho apressadamente, fiz a barba, coei café, joguei milho para as galinhas, pus água para a traquina da cadela, pus paletó e gravata, acordei o Daniel, para que fechasse o portão, e voei para o Ministério Público, onde participaria do evento “Diálogo sobre as eleições 2022”. Estava marcado para as 8h30, e eu cheguei, agoniado, às 8h35. Besteira minha, como sempre. Ainda não começara e, é claro, somente daí a uns 20 minutos ou mais é que começaria. Fiquei aliviado e aproveitei para configurar o idioma do celular.
Já no auditório do evento, em meio às autoridades e aos demais participantes, agora é que não poderia mesmo ligar. Teria que configurar o aparelho em português e enviar mensagem escrita. O problema é que eu não conseguia fazer isso. Na agonia, piorei as coisas: dei um comando atabalhoado e aí ficou tudo, mas tudo mesmo, em grego. Desespero total. Quase a suar no ar condicionado, momentaneamente, me esqueci de que leio e entendo o grego. Alheio a tudo, senti-me inteiramente analfabeto durante uns cinco minutos ou mais, que me pareceram uma eternidade. De tão agoniado, sentia até falta de fôlego.
Parei. Racionei um pouco e me lembrei de que sei grego o suficiente para ler e configurar o celular. Recomecei e consegui, ainda bem. Configurei e, até que enfim, enviei mensagem para a Câmelha, explicando-lhe o que me acontecera. Uf! Que alívio! E tudo isso por quê? Porque, como sou aluno de dois cursos de grego (grego bíblico e grego moderno), baixara à noite o teclado grego no celular, mas não me preocupara de configurar corretamente. Aí deu bode. A mulher e o filho em Belém, ambos em tratamento da saúde, e eu impossibilitado de me comunicar cedinho com ela – por escrito e em português, claro. Que sufoco!
Enviado por Valdinar Monteiro de Souza em 15/07/2022
Alterado em 15/07/2022