Recanto Literário

Qual o proveito das flores postas somente sobre o caixão? Têm mais valor as que são dadas em vida.

Textos

Crônica de Uma Visita

Quinta-feira, 7 de maio de 2009, 19 horas e alguns minutos. Faltei, por motivos alheios a minha vontade, à sessão habitual da Loja Maçônica “Firmeza e Humanidade Marabaense” e estou à frente do computador. Sozinho, meu caçula, de quatro anos, Samuel dos Santos Monteiro, assiste pela tevê, na sala ao lado, a um dos seus programas preferidos, o do Pica-pau. O primogênito, Douglas Correia Monteiro, e minha mulher, a professora Câmelha Pereira dos Santos Souza, estão para o trabalho e (parodiando um conhecido apresentador de tevê) o meu filho número dois, Daniel dos Santos Monteiro, está jogando bola na rua, como costuma fazer todos os dias. Como geralmente acontece nos outros dias úteis da semana nesta hora, somente eu e o Samuel estamos em casa.

Leio crônicas no “site” da Academia Brasileira de Letras, como gosto de fazer. José Sarney, Carlos Heitor Cony e Moacyr Scliar, não necessariamente nessa ordem, são, dentre os imortais da Academia, meus cronistas preferidos. Ao mesmo tempo, ouço, no fone de ouvido, bem baixinho, como é do meu costume, canções do padre Zezinho e de outros cantores cristãos de confissão católica apostólica romana. Um cedê que ganhei de Edições Paulinas, há cerca de três anos. Abrindo e fechando parêntesis: se escrevo “tevê”, para TV, de “televisão”, por que não poderia escrever “cedê, para CD, de “compact disk”? E “cecê”, para CC, de “cheiro de corpo”? Claro que sim. Por que não? A propósito, lembrar-se-ia o leitor da crônica “Deacê, de d.a.c.”, que publiquei há cerca de dois anos?

Pois bem. Leio crônicas dos imortais e ouço músicas do meu cedê (veja aí o leitor dois empregos bem distintos da preposição “de”). De repente, batem à porta e chamam pelo meu nome. Atendo e vejo que são os ex-vereadores Leodato da Conceição Marques, Francisco Elton Gomes Andrade (Mamoré) e Ademar de Alencar Santos, que desejam consultar-me sobre um assunto jurídico. Conversa vai, conversa vem. Olham meus livros enquanto Leodato e Ademar falam dos seus. Depois passamos ao assunto propriamente dito.

Guardei do diálogo estas duas frases: “Se eu disser alguma coisa errada, o senhor me corrija, pois não sou conhecedor do Direito”, diz, com a humildade e elegância que lhe são peculiares, o vereador Leodato. “Se o senhor disser alguma coisa errada, vou ignorar. Não se preocupe”, respondo. E continuamos. Uma conversa muito para lá de agradável, pois é bom rever amigos. Depois, ignorando meu pedido para que se demorassem mais, vão-se embora, prometendo, protocolarmente, que voltarão mais vezes e com mais tempo para conversarmos.

Tão logo eles saem, volto à leitura e à musica. Agora, também à escrita, pois resolvo escrever uma crônica para registrar o momento, que, a despeito da informalidade em que tudo se deu, para mim se revestiu de relevante importância, pela cordialidade vivida, pelo reconhecimento da confiança que depositam em mim como profissional do Direito e pelo assunto da consulta em si mesmo. Fiquei alegre, feliz; daí o registro. Crônica é isso. Como escreveu recentemente o imortal Moacyr Scliar, “a crônica pode ser vista como a transcrição, na página do jornal, da conversação informal, do papo descontraído que nossa gente cultiva”.

Quando terminava de escrever, mais uma interrupção. Desta vez é o presbítero Antônio Wilson Barbosa de Souza, meu irmão em Cristo (para quem ainda não sabe, sou cristão de confissão presbiteriana). Vem pedir-me que pregue na Congregação Presbiteriana do Jardim União, domingo, à noite. Pena que seja mais um que, ignorando meus apelos, vai logo embora, deixando-me sozinho.

Uf!... Foi-se o tempo, foi-se o espaço. Só mais umas palavrinhas. Sou evangélico e discordo totalmente da teologia católico-romana, mas isso não me impede o respeito aos cristãos de confissão católica apostólica romana, nem de ler escritos e ouvir música de padres. Aprendi, principalmente como maçom, que devo ser tolerante com a religião dos outros. Discordar, sim; desrespeitar e odiar, jamais! Ouço agora, por sinal, a “Canção ecumênica”, de autoria do padre Zezinho, interpretada pela cantora Faride, que nos manda “respeitar os ateus”.
Valdinar Monteiro de Souza
Enviado por Valdinar Monteiro de Souza em 04/02/2013


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